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Eppur si muove.

Daniela Sá, João Carmo Simões

“E, ainda assim, se move!” Esta é a declaração da força vital do pensamento, do desejo que mora numa ideia que já é pensada, mas que, entretanto, ainda não a vemos. Esse desejo é o que chamamos de Projecto, essa coisa que é toda para a frente, toda futuro.

Foi o Paulo que um dia nos contou que a Modernidade nasceu com Galileu, na convicção de que uma ideia pode ser mais certa, e mais bela, do que aquilo que os nossos olhos são capazes de ver. E para o Paulo, esse dia, o dia de julgamento de Galileu, calhou no Carnaval. Lá fora, tudo Euforia e Vigor. Da janela, Galileu hesitante vislumbrou o povo nas ruas cantando, e na multidão dançava uma Terra em torno de um Sol. Ah!, a verdade era já popular. Galileu sorriu, a ideia tinha cumprido o seu destino: dançava exuberante pelas ruas da cidade.
Eppur si muove!

A Esperança que antes poderia ser coisa vaga, com o Paulo só pode existir, evidentemente, vigorosa, peremptória e concreta. “Se você não souber, quem sabe? É fácil você dizer: Não, quem sabe é o outro lá… Você tem de se obrigar a dizer: eu sei!” Não precisamos necessariamente de saber desde logo o que fazer, mas podemos saber o que não fazer, e aí começa.

Dentro daquela sala única do seu escritório apenas uma regra: ser absolutamente consequente. “Estamos condenados a transformar ideia em coisa!”, avisava-nos com generosidade enquanto nos fixava, ou mostrava um dos seus pequenos objectos/invenções, um papel dobrado, um pêndulo, uma estrutura de arame. Sempre o canto do ímpeto, essa força vital da ideia, o Projecto.

Ela vinha da consciência de que a Arquitectura é uma necessidade de sobrevivência, uma forma peculiar de conhecimento. Para o Paulo, a Arquitectura tem a força de uma urgência, ela é, inexoravelmente – uma das palavras mágicas do Paulo – um amparo à vida humana. Sozinho na natureza, “você se ferra”. Sem um botequim para conversar, “você se ferra”. Esquecido dos avanços das gerações anteriores, “você se ferra”. E isso, que é vigorosíssimo e decisivo, não está senão nas nossas próprias mãos.

“A natureza é um trambolho”, “Se é espaço, deveria ser público” são ideias de uma clareza tal que nos explodem os lugares comuns e todas as pre-concepções, como bombos tocando o Carnaval de Galileu.

Eppur si muove, Paulo!
O caminho só dança para a frente, pelas ruas da tua cidade. Ainda que não a vejamos já, ela existe, move-se, e é mais certa do que aquilo que os nossos olhos são ainda capazes de ver.

O primeiro livro que editámos foi sobre o trabalho do Paulo Mendes da Rocha no Museu Nacional dos Coches (2015), sobre um edifício mal compreendido que era preciso clarear, o seu primeiro edifício público fora do Brasil depois de Osaka. E assim fundámos a editora para logo partir para “CIVITAS / São Paulo” (2017), editando oito obras do Paulo, num conjunto de 19 obras, algumas nunca publicadas. Procurava-se pôr em evidência um conjunto de arquitectos que à pequena escala, procuravam reagir ao avanço desenfreado da metropole de São Paulo, cruzando à escala do edifício o espaço público inexistente na cidade. Da escola sem portas do Artigas, do Museu sem paredes da Lina Bo Bardi, às casas do Paulo em que o tecto é um e as paredes não o dividem.
As suas obras são fruto de um pensamento singular, que as extravasa, e que constitui uma referência sobre a condição do homem no mundo, as cidades e o território. Assim, editámos “Futuro Desenhado / Escritos Escolhidos de Paulo Mendes da Rocha” (2018), a sua mais completa antologia de textos, fruto de uma recolha exaustiva de cartas, recortes de jornal, entrevistas, aulas e apontamentos, editando um conjunto de 36 textos fundamentais para o acesso ao seu pensamento. A primeira tradução para Inglês, “Designed Future / Selected Writings by Paulo Mendes da Rocha” (2019) possibilitou avançar numa partilha mais alargada das suas ideias e fundamentos, dando luz a uma compreensão mais profunda da sua obra e devolvendo a universalidade às suas ideias.

Mais se seguirão.
Eppur si muove!

Obrigado Paulo Mendes da Rocha!

Daniela Sá e João Carmo Simões

Arquitectos, fundadores da Monade


....Futuro Desenhado / Paulo Mendes da Rocha.. Designed Future / Paulo Mendes da Rocha....

....Futuro Desenhado é um percurso pela condição moderna, da nossa vida nas cidades, da América, do território novo e do velho continente, da visão e do desenho como ferramenta essencial da construção do futuro. ..Designed Future is a journey through the modern era: our life in cities, the Americas, new territories and the old continent, of vision and design as essential tools for building the future. ....

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